quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O AVESSO DO OPORTUNISMO


Tenho cá minha simpatia pelos oportunistas, sim. Não só os do campo, sempre bem colocados ou sortudos. Assim parece: o sr. Mário Jorge Lobo Zagallo é oportunista. Mas não é. Talvez essa constatação confunda mesmo os que guardam uma certa desconfiança ou até antipatia ao troncudo velhinho (eu era menino, e Zagallo já era velho). Os oportunistas, de fato, têm o talento de fazerem novas e oportunas amizades e estão sempre dispostos a participarem de grupos os mais consistentes e com algum alcance de poder. Zagallo é comparsa do poder no futebol do Brasil há décadas. Disso já sabemos, é sem novidade. A proeza deste homem está no fato de ele não ser mesmo um oportunista – embora a sua história, a grosso modo, imprima atestados deste tipo.
Achei uma verdade absoluta: Zagallo é um ignorante. Um assassino do futebol. O homem errado na hora errada. E errado também na hora certa.
As provas? pois vejam bem, TV Bandeirantes, agosto de 2007: dez anos atrás a Seleção brasileira armara em seu ataque uma dupla que em curto espaço de tempo marcou o futebol mundial: Romário e Ronaldo. Ambos juntos não perderam uma partida sequer. Foram diretamente fundamentais em todos os jogos em que estiveram juntos. E juntos fizeram mais de trinta gols em dezesseis jogos. Zagallo era o técnico. A chance de um ignorante, por méritos próprios, entrar para a História. Como um bom não-oportunista, Zagallo desperdiçou. Romário e Ronaldo marcariam muito mais e além se no ano seguinte, ano de Copa, permanecessem. Zagallo cortou Romário. Motivo falso e nitidamente pessoal. E por causa dessa atitude, não permitindo que na maior vitrine desse esporte esta dupla estivesse em campo, mudou a História do futebol. 
Uma contribuição do velho lobo: um vice-campeonato. Tudo isso sob o controle de um esquema tático (4-3-1-2): sem sentido, sem nexo, vazio. Esta, uma outra contribuição. E não é só isso naquela copa. Não contente, Zagallo esquartejou o futebol de Giovani, meia, à época, uma temporada antes, no Santos, inteligente, frio, objetivo. Sem rumo, restrito, cauteloso, sem pernas e sem raciocínio, quadrado aos limites do meio de campo na Copa de 98. Depois disso? Giovani amargou anos sem vestir a camisa amarela. Sumiu. Escafedeu-se. O cara é assassinado e ainda leva culpa. Sua temporada no Barça também desapareceu.
Engraçado, ele, o Zagallo, não sofrera o bombardeio esperado da imprensa ao fim da Copa de 98. Talvez pelo mérito de ter vencido como coordenador técnico a Copa de 94. Não foi. O centro das atenções: especulou-se, à derrota para a França, o time ter entregado o jogo. Duvido. A merda fez-se antes. Zagallo a fez.
Das cinzas dos bastidores da CBF, ressurge Zagallo, para comandar a Seleção rumo à Copa de 94. E fez sua parte :dois homicídios, sob a cumplicidade do vagaroso Parreira: Zinho e Raí.

Zinho: meia esquerda do palmeiras, bom armador, começara a carreira como lateral no Flamengo, campeão brasileiro de 93. (ganhara o doce apelido de enceradeira na Copa de 94. Ordens de Parreira, sob a instrução ao pé de ouvido do Sr. Mário Jorge). 
Zinho, em entrevista, dez anos depois: “Segui as instruções dos professores.”
Raí: grande meio campista, anos antes pelo São Paulo, campeão de quase tudo no Brasil e nos torneios mundiais de clubes, recém chegado, à época, ao PSG, dupla de meio campo brilhante com Leonardo. (Zagallo, às cataratas, não viu brilho. Leonardo na Seleção é lateral esquerdo. Raí, sem cheiro, sem sal, cheio de dedos, não rodava como Zinho, passava a bola de um lado a outro. E só. Mazinho tomou-lhe a posição. Nosso armador da Copa de 94? Dunga. Arreganhando e legitimando de vez o ciclo da "era Dunga" no futebol mundial).
 
Meses antes, nas eliminatórias daquela Copa, Zagallo mostrou seu poder de influência e ignorância: Romário, rei de Barcelona, volta à Seleção apenas no último jogo daquele torneio. Apresentação de gala, aplausos e imprensa cada vez mais atenta aos percalços da infame dupla de treinadores. Sentiram-se obrigados a levar Romário. Uma andorinha só faz verão sim. Romário fez: dois gols, banho de cuia, tabaca, bola na trave, elástico... 
Zagallo fez verão também, só que em 74. De novo o mestre interrompe a História do futebol brasileiro, saído de uma espetacular Copa do Mundo, a de 70, sob a expectativa de outra Copa brilhante, ele consegue montar uma equipe sem vida, apagada. Não deu outra: chumbo na boneca. Passou um carrossel sobre o canário.
Já a Copa de 70, decerto, assumo, me entrego, é nenhuma: nítida exceção às claras provas de ignorância do Zagallo. Ali sim puro oportunismo. Ali, naquela equipe montada pelo João Saldanha, Zagallo mexeu naquilo que o Médici queria: Dadá Maravilha na Copa. Manteve o restante. Sua melhor ação? a não-ação. Soldado mandado... mas a grande influência de Zagallo mesmo naquela Seleção deslumbrante virou lição desaprendida nos dias de hoje: a desobediência. Zagallo dizia sim. Em campo, o time jogava não. Deu no q deu: espetáculo. Ainda não era o lobo carrancudo e ousado de tempos pra cá. 
E não é que reaparece, em 2006, o velho lobo versão múmia viva? como um bom ignorante, Zagallo entrou mudo, saiu calado. Assim como a Seleção.
Pois então, está sabido: Zagallo é - enquanto técnico, coordenador técnico - a figura viva do anti-futebol. A mais clara burrice no manuseio de uma equipe de futebol. O perfeito exemplo de como não se jogar futebol. O avesso do oportunismo. 
Eu engulo sapo. Só não engulo Zagallo.