quinta-feira, 9 de outubro de 2008

TÁ NA CHUVA É PRA SE MOLHAR. TÁ NA SOMBRA É PRA DEFINHAR.



Curto e grosso, saibam: o último comunista petista soteropolitano morreu entalado com acarajé e coca-cola. Sobra no Partido dos Trabalhadores uma gente que se entope de acarajé e coca-cola, mas não morre, porque lá quem outrora andava à esquerda, hoje trafega no caminho do meio. E o que era pedra deixou de ser. Virou PSDB. Eis a postura explícita de uma mudança que já se desenha há algum tempo: PT e PSDB alinhados num mesmo patamar nas eleições da Prefeitura de Salvador, no decisivo 2º turno. Imbassahy apóia Pinheiro que está com o presidente Lula que tem uma escancarada e estratégica simpatia por João Henrique. Não, isso aqui não é uma conspiração aos moldes fantasiosos de Hiltons e afins. Não são todos farinha do mesmo saco. O PMDB, em si, engloba os mais variados tipos de farinha num mesmo saco, pois onde se engole Garotinho, se degusta Pedro Simon. PT e PSDB, aos poucos, se entrelaçam e vêm demonstrando, sem rodeios, que as diferenças são superficiais.

E quanto ao PC do B? Vai na sombra. Na sombra do PT. Fora isso, PSOL e PSTU seguem, raivosos e estressados, sem rumo, sem sombra, sem água fresca. Porque, de fato, esta aproximação, em Salvador, é uma reaproximação: Lídice da Mata, quando tucana, contou com a ajuda do PT para derrotar ACM em 1992; há quatro anos, João Henrique no 2º turno com César Borges, PT e PSDB, cada um no seu quadrado, apoiaram fervorosamente o atual prefeito; e no Governo Estadual a base de Wagner, na Assembléia Legislativa, é o PSDB.

E no meio desse laço fraterno – outrora tímido, hoje descarado – que vem se construindo na Bahia, o PC do B, em Salvador, permanece no papel de figurante, figurinha repetida e descartável, mera peça de enfeite que transita entre o progressismo paliativo de um PT e a tendência caricatural e panfletária de seu Estatuto baseado em comunas, foices e martelos.

(O mais claro exemplo dessa postura apagada dos vermelhos barbudos foi a decisão infame de desfazer a candidatura de Olívia Santana em detrimento da candidatura imposta pelo PT, com Pinheiro à frente. Muito pior, porque o PC do B nem força teve para deixar a “negona” ali, na espreita, como vice. Empurraram-na longe, puxando Lídice da Mata para a vice-candidatura).

Deveria sim caber ao PC do B soteropolitano uma renovação em sua postura, pasmem, uma revolucionária transformação, uma verdadeira tomada de atitude, partir pra cima, fazer jus, na medida certa, ao seu discurso teórico, sair da sombra de um lugar que não lhe cabe mais, principalmente em Salvador, onde a tendência ao ostracismo vem sendo maior, pois, nos últimos anos, o passo mais largo que o Partido deu foi a vice-candidatura, em 2004, do nulo Deputado Javier Alfaya. E, independente de seus 2.385%, Olívia Santana, partindo para uma candidatura, ainda que simbólica, tem muito mais força e melanina influente do que um simpático e inexpressivo espanhol radicado no Brasil.

Não creio que um retrocesso seja o caminho – aliar-se com gente de outro século, os tais Hiltons e Heloísas Helenas –, mas, perante a passividade e covardia do PC do B soteropolitano, é invejável a postura soviética desses antepassados. Pois acredito sim que é muito mais lucrativo e politicamente viável ter independência ainda que pouco visível do que viver da invisibilidade absoluta de ser eternamente um simples partido coligado de Esquerda – sabe-se que essa postura, de ficar no rebote, à espera de cargos, como um aparente mero partido coligado é condizente a quem impõe alguma influência, o caso do PMDB: Gedel apóia João Henrique, mas é base do Governo Lula que apóia Pinheiro.

Amigos e amigas, o PC do B, na Bahia, é mosca morta. Não cheira porque só fede a mofo. Prefere ser sede de jovens socialistas descontextualizados ou mesmo se orgulha de ter em seu quadro parlamentar uma deputada temperamental e mal resolvida, um deputado vaidoso cheio de manias e mordomias, como se pela postura moderninha de ambos isso significasse alguma influência ou enriquecimento político para o Partido em nosso Estado. E é a capital o estopim da inutilidade política do PC do B, que, por conta desse meio-termo que insiste sustentar, vem sendo desacreditado até mesmo pelos sindicatos que sempre foram sua base, pois nem Oliveira (carro-chefe no Sindicato dos Comerciários) nem Everaldo Augusto (homem forte do Sindicato dos Bancários) se reelegeram. Apenas Olívia e Aladilce saíram ilesas: dois pontinhos vermelhos na casa do povo.

O rompimento do PC do B com o PT em outra capitais aconteceu, sim, mas até então não serviu de exemplo para os militantes desta província. Vê-se: Manuela saiu candidata em Porto Alegre; Jandira Feghali, no Rio, desprezou Molon; Jô Moraes, em Belo Horizonte, viu de longe o namoro entre PT e PSDB; Ricardo Gomyde, em Curitiba; e até em Macapá, o PC do B mostrou-se independente. Mas em Salvador a sombra, obviamente, não viu sol.

Soube que o chato e metafórico José Saramago disse, cabisbaixo – como parece sempre andar – e desiludido, que o comunismo hoje é um estado de espírito. Oralmente o português proferiu estas palavras, e imagino que se as tivesse escrito, decerto, criaria uma longa e irritante metáfora, que chamariam de romance, quiçá, viraria até filme. Acontece que Saramago não é baiano, porque se ele cá estivesse, se fosse filho da Cidade da Bahia, nem alma nem espírito veria para construir a sua melhor frase. Veria apenas sombra.