domingo, 30 de março de 2008

NEM TANTO TANQUE, TAMPOUCO PALANQUE.


Para a tristeza de uns tantos tontos por aí, eu não morri, nem desisti. E se não morri decidi matar as mulheres do século XXI, as mulheres independentes, auto-sustentáveis, essa espécie perniciosa que prolifera de uns tempos pra cá, miniaturas de Leila Diniz, recrutas frustradas de Marta Suplicy, imitações nefastas de Pagu, dessas que existem hoje, que negam o tanque, exigem palanque. Ora, sejamos sensatos, nem tanto tanque, tampouco palanque.

E Reich para entrar para a História perdeu horas infindáveis de sua vida ouvindo e aconselhando mulheres que já apresentavam os primeiros sintomas desta anomalia que é a independência, o fracassado teor auto-sustentável que essas racionais mulheres insistem sustentar. Gaiarsa, na mesma linha de Reich, se vendo desesperado com o desespero destas, assina embaixo soluções descabidas que vão desde sugestões de relacionamentos abertos até um adultério aqui ou ali de vez em quando. Tempo gasto a toa porque não foram capazes, nem ao menos tiveram coragem de admitir que a ascensão da mulher independente é a morte da mulher original.

Talvez essa frouxidão se dê pelo susto de ver umas poucas mulheres revoltadas queimando sutiãs em praça pública. Decerto, um rompimento. Agora, elas, as auto-sustentáveis, são obrigadas e se vêem atordoadas a arcar com as conseqüências de tal escolha. O que chamo de mulher original é a mulher que não existe mais – e tende mesmo a inexistir por um longo tempo, assim me parece –, as donas de casa, aquelas que cuidam do lar, dos filhos, dos imprescindíveis afazeres de casa. Essa, sim, morreu.

Temos visto surgir aos montes um bando irrequieto de mulheres trabalhando, pensando por si só, auto-sustentável ao ponto de passar meses e até anos sem se apaixonar. Mas nada é fruto do acaso, é fruto mesmo dessa nova realidade que se configura, porque a partir do momento em que a mulher tomou pra si o mínimo de questionamento sobre as coisas do mundo e sobre a sua própria existência e papel na vida social, ocorreu uma radical transformação que se revela na recente incapacidade de amar, porque simplesmente questionar e amar são territórios que não se tocam, e o primeiro ao suprimir o segundo, inevitavelmente traz à tona mulheres desconfiadas, avessas a relações que ultrapassem meses de duração, irritadas facilmente com qualquer ato demasiado doce ou demasiado grosseiro por parte do homem. É um olho aberto, o outro também.

O pior de tudo é que mais do que uma proliferação de mulheres que olham torto para dentro da cozinha, é a proliferação do ideal de mulher independente que afeta até mesmo mulheres que eram genuinamente originais. Fiquei estarrecido ao tomar um táxi dia desses e já dentro do carro olhei para o lado e vi que quem me conduzia era uma mulher. Não estou dizendo que mulher seja incapaz de dirigir carros – embora eu veja incompatibilidades naturais entre mulher e volante, pois ainda acho que mulher cai bem no banco ao lado –, apenas não sou obrigado a aceitar ver com naturalidade uma mulher dirigindo um táxi. Não me recusei a aceitar a condução porque estava muito atrasado e por sentir-me envergonhado de expressar minha indignação. Pedras que outrora jogavam em Madalenas, tendem a machucar ferozmente qualquer um que atente a esta novíssima e fracassada verdade.

Porque é simples o motivo de tanta angústia nas mulheres, é parte de seu gene ser uma mulher original (lavar, passar, cozinhar, arrumar a casa, assistir tv etc), é uma vontade reprimida que escandaliza de variadas formas a cada tentativa desiludida de ser mulher independente e ao mesmo tempo feliz. Fiquem sabendo: amar e pensar não tocam a mesma música. E como já disse em outras palavras antes, mais do que pensar, muito pior do que pensar, as mulheres hoje rebaixam sua existência a uma ostensiva defesa, defendem-se de toda arbitrariedade masculina, encaram de frente uma voz mais alta, desprezam muitas vezes sua moral em função de demonstrar sua infame independência mantendo relações supostamente amorosas e sexuais, a céu aberto, com uma variedade peculiar de homens.

Nem Reich, nem Gaiarsa, nem Márcia Goldschmidt. É dada a hora do retorno imprescindível, a volta da originalidade da alma feminina. Tentativas, repito, há. Algumas forçam a feminilidade com suas roupas grosseiras e apelativas, ou mesmo no perfume que usam, não mais aquele suave odor, mais além porque exterminam o estoque de perfumes masculinos das prateleiras, talvez para dar a impressão, a certeza, a nós, homens, de que trabalham.

Somos atropelados todos os dias pelas carrascas chefas de setor, pelas esquizofrênicas gerentes de banco, pelas ignorantes e mal-amadas parlamentares. Oro todas as noites para não ter que suportar no dia seguinte as pré-menstruadas, que hoje, porque trabalham, se auto-sustentam, não têm direito e nem se dão ao direito de descanso num período tão delicado. E não pode faltar a visceral arrogância das intelectuais, estas, porque pensam, questionam, me parece, as mais concretamente afetadas do século XXI, sempre escrevendo tratados de dores e frustrações infindáveis.

Por tudo isso, isolado, faço cá minha campanha em favor da mulher original, aquela que não tem porque se preocupar com contas a pagar, que não precisa cuidar de planilhas, gráficos, periódicos, leis, ou responder inquéritos, escrever teses, participar de assembléias ou reuniões semanais de auto-ajuda e muito menos mexer com altas tecnologias, dirigir táxi e, meu deus, pasmem, dirigir ônibus.

É preciso cuidar que as novas gerações não sofram a carga absoluta destas fortalecidas frustradas. Não se pode comprometer tantos seres em formação por causa de um mal resolvido aspecto da atual vida social. Cabe às mulheres se darem à dura lida de lavar os pratos, enxugá-los, lavar calças jeans à mão, deixarem de lado a “chapinha” e pegarem firme o ferro elétrico, saber dos acontecidos da novela da tarde, desejar filhos e dedicarem-se a eles e ao seu marido, numa devoção nunca antes feita nem vista porque se trata, obviamente, de uma emergência, pois, repito, esta incapacidade de amar, de entregar-se inteira – e não essa metade absurda e sem cheiro – a um pretendente amor só poderá ser superada quando Amélias (antítese de piriguete) e Emílias (síntese de mulher original) entrarem em cena num triunfal retorno, de corpo e alma, apoiadas às costas do encantado príncipe, montados os dois num inesquecível cavalo branco.