quinta-feira, 16 de abril de 2009

EU PREFIRO O RATZINGER!


Obama entende mais do Brasil do que o próprio Brasil. Quando disse: “I am brown”, somente o movimento negro, por aqui, não ouviu essa frase. Não ouviu porque é fútil, agressivo e ineficaz. Agressivo porque proclama o que não entende, louva o que não existe, prega o que não tem fundamento. Fútil por conta das tranças, modas e babilaques como uma forma – creiam! – de se fazer política com valorização estética, na maioria das vezes, exagerada e caricata (conheço uma moça negra que só se veste com aquelas batas amarronzadas que nem na África se usa mais). E ineficaz porque simplesmente o seu discurso bicolor é vazio e não contempla a escrachada realidade multicolor brasileira.


O que há em comum entre Obama e o movimento negro no Brasil vai além da melanina: a falsa ingenuidade. As nossas siglas afro-descendentes parecem ingênuas ao gritar para todo o mundo que o Obama é negro, ainda que o próprio tenha declarado - bem ao modo Caetano Veloso - que é mulato. É o que disse: parecem ingênuas nossas siglas afro-descendentes. Assim como o novo presidente também parece ingênuo com seu semblante leve, risonho o tempo todo e sempre com uma piada pronta na ponta da língua. O rosto do Obama é o retrato da falsa ingenuidade, a ingenuidade que o Bill Clinton não teve ao borrar a imagem do seu partido com um inusitado sexo oral em plena Casa Branca. A arrogância do Obama é a mesma de um republicano qualquer, havendo a diferença apenas na circunstância em que o democrata chega ao poder, a economia e a reputação estadunidense indo por água abaixo, um país mundialmente desmoralizado, derrotado pela política suicida do Bush e tendo como inevitável resultado o advento de um redentor.


O rosto limpo do Obama engana tanto que até o ranzinza Fidel Castro está acreditando na boa vontade e no discurso amigo do presidente estadunidense ao se aproximar da ilha maldita com ares de desbloqueio comercial. Fidel é ingênuo sim. Tornou-se. Na infância e na velhice é que vivemos o mais puro estado de ingenuidade.


Obama é o João Paulo II do império estadunidense. Eu fico com o Ratzinger! João Paulo II, com aquele rostinho pronto para sofrer atentado, sempre enganou e dissimulou o mais que pôde uma igreja que não existia: tolerante, participativa, moderna. Assuntos relevantes da cartilha católica foram deixados de lado e o que prevaleceu foi a imagem individual e personalista de um simpático pregador da paz, de um sujeito que não tinha nojo de beijar o chão que pisava.


Eu prefiro o Ratzinger. Visceral, verdadeiro, sem máscara. Não há maquiagem global ou hollywoodiana que encubra, de todo, o semblante rasgado, grosseiro e reacionário de Ratzinger – até no nome, vejam só.

Em nada se compara o posicionamento despolitizado e ineficaz do João Paulo II com a firmeza apostólica do nosso Papa, sua ousadia de pregar abertamente contra a camisinha - em favor do amor - em pleno continente africano, onde AIDS e DST são siglas constantes no dia-a-dia. João Paulo II jamais se portou com a mesma veemência contra o aborto, sua inércia era tão gritante que às vezes parecia envergonhar-se de citar tal assunto em seus discursos. João Paulo II mais prejudicou do que contribuiu. Sua pose de homem do mundo, suposto Gandhi, afastou sua própria imagem e afastou também muitos fiéis da igreja. Não fossem os carismáticos e suas dancinhas, o trabalho do Ratzinger em trazer de volta o rebanho desgarrado seria muito maior.


Ratzinger sim representa bem a igreja, não dá espaço a pseudo-católicos, em seus discursos há doses consistentes de dogma, vai às origens da palavra bíblica, passando por assuntos atuais sem concessões, maldizendo, como é, de fato, seu dever, o aborto, a camisinha e a homossexualidade.


Admiro o Ratzinger. Um exemplo, uma referência de total inexistência da falsa ingenuidade tão comum em democratas, tão comum em movimentos ineficientes, tão comum em ecumênicos. Porque não é qualquer homem que tem a cinzenta ousadia de declarar que "a salvação dos homossexuais é tão importante quanto a salvação das florestas". É preciso ser Ratzinger, muito Ratzinger.