segunda-feira, 8 de março de 2010

O Mulherismo de Dilma Rousseff e Marina Silva.

Depois de eu ter acordado deste sono profundo (estive em estado de coma por incontáveis meses), o grande mérito foi que não tornei-me complacente com qualquer rosto explicitamente simpático, nem passei a aceitar passivamente a mais escancarada declaração polêmica. Por isso, assim que vi o Caetano Veloso dizer que entre a mulher e o preto, ele ficava com o preto, referindo-se a Barack Obama, não hesitei, dei chilique, pus-me a escrever.


No Brasil, se formos avaliar especificamente melanina e genitália, quanto à primeira característica, naturalmente vê-se, pela confusão étnica de séculos, que o indivíduo pode se dizer negro ou não, é questão de escolha, é questão de entendimento, é uma determinação cultural. Quanto à genitália, não há para onde correr, ou é homem ou é mulher. Apesar de casos como os de hermafroditas, vai-se sempre puxar para um dos lados.


Porém, existem dois casos graves de mulheres, neste país, que menos parecem mulheres, são seres originalmente militantes, e que por conta de tal origem, lhes foi retirada a mínima feminilidade que poderia existir: é o caso de Dilma Rousseff e Marina Silva.


Crias do PT, esses bravos seres hoje correm em correntes opostas: Dilma – a Uspiana Stalinista – é o braço direito de Lula, a opção de Lula para a Presidência nos próximos quatro anos. Já Marina – eterna ecologista –, depois de anos inúteis no Ministério do Meio Ambiente, no atual governo, desistiu, rompeu, e agora dá a cara para baterem no renovado abrigo de esquerdistas frustrados: o PV.


Mas há um gradual processo revolucionário que se passa dentro apenas destes dois seres, destas eternas militantes, que é a interna revolução estética, o que chamo aqui de Mulherismo.


Ao vê-las como candidatas, o que, verdadeiramente, me intriga é o enorme trabalho que seus respectivos marqueteiros terão em transformá-las em mulheres. Porque sabe-se bem que – entoa-se aos quatro cantos do mundo – imagem é tudo e já não cabe nos dias atuais o semblante másculo marxista – quase barbudo – de Dilma, nem a cara enfezada e nula vaidade de Marina.


Será preciso revoná-las, dar-lhes a feição de uma outra revolução da qual ambas desaprenderam nestes infindos tempos de militância, greve, seminários e palestras, acrescentar a estes seres o mínimo traço de Mulherismo.


Já há algum tempo, os homens de marketing do PT, porque tem recursos e a máquina do Estado nas mãos, iniciaram esta dura jornada na aparência de Dilma, juntou-se à pasta da Casa-Civil rigorosas aulas de etiqueta, orientações sobre comportamento social simpático e, compulsivamente, as video-aulas sobre o poder do carisma. Sem falar na carregada maquiagem, nas femininas vestimentas e na providencial peruca em tempos de recuperação operatória. Há boatos de botox espalhados em seu rosto. Não há provas.


No caso da Marina, as armas não são tão fortes assim, o recurso é pouco, a vontade de parecer menos robusta é muita. Mas os primeiros sinais de mudança de conduta da moça não se pautaram numa tentativa de carisma, absolutamente. Nem houve renovação de seu guarda-roupa. Em propaganda política, a acreana surge com a fala mansa, o corpo curvado, a cabeça quase toda inclinada, como quem quer nos mostrar toda a amplitude de sua humildade, e tomando como primeira ação, para chegar aos bons olhos do público, o que bem aprendeu com a cúpula de seu anterior partido, rebuscando sua história, contando dos tempos difíceis da infância e da adolescência ainda analfabeta, passando pelos dias de luta e prazer com Chico Mendes na Amazônia, até os prêmios recebidos enquanto nula ministra do Meio Ambiente.


A questão-chave é: pouco interessa a genitália. Dentro das instâncias de poder não é esse mero aspecto, essa simples couraça que vai determinar a sorte de uma nação. Muito menos a origem do indivíduo vai ser determinante, que é bem o caso do nosso Presidente, como se ele nunca tivesse deixado de ser operário.


Já se pode dizer o óbvio desde então, ambas se pautarão na conversa fiada neo-feminista, na hora do embate mais ferrenho, decerto, colocarão na mesa o fato de serem mulheres, e ao invés de trazerem para primeiro plano debates e programas de governo, estes seres que ainda guardam dentro de si o ranso soviético trarão à nossa vista seus sorrisos forçados, seus carismas automatizados, a falsa impressão de que são antes de tudo, pasmem, mulheres, o que sabemos que é mentira (militantes são militantes, não tem sexo), como se fosse o bastante serem mulheres e que se acaso fossem mesmo mulheres, sejamos sensatos, não é nem nunca será o suficiente para ter as mãos de ferro que é governar um país. De unhas pintadas, ou não.